Em um excelente grupo de marketing digital que participo, um colega faz a pergunta:
Como lidar com os comentários maldosos nas postagens e anúncios?
Seguido dessa pergunta ele deu três hipóteses sobre o motivo dessa atitude tão comum quanto chata que eu comento abaixo.
● A inveja que é peculiar ao brasileiro?
Eu já fui dessa opinião, mas depois de estudar mais entendi que não há nenhuma inveja peculiar a qualquer povo. Ela é onipresente em todas as épocas e em todos os povos. A não ser que você queira dizer o modo "peculiar de invejar do brasileiro".
● Por falta de provas? (pessoas próximas que prosperaram honestamente, por exemplo)
Mesmo nos EUA, onde há mais gente rica por m2 do que aqui, há esses comentários. E lá há muito mais pilantra no mercado digital. Quando eles burlam todas as leis antigas, eles fazem masterminds para aprender a burlar as novas.
Mas, sem dúvida, esse fator pesa mais aqui pela falta de bons exemplos de gente rica, agravada pela pobreza geral da população (pô, o cara que ganha 5 mil reais já é topo da pirâmide aqui).
Será que sempre veremos críticas generalistas assim?
Enquanto o pessoal continuar fazendo anúncios para que a pessoa se sinta culpada por não ser rica, sim. Pensando bem, então para sempre, sim. Talvez até depois.
Como você costuma reagir aos comentários negativos a respeito do seu trabalho?
Primeiro, fico puto. Penso em como humilhar aquela pessoa. Acaricio a ideia. Planejo com sadismo a frase diabólica. Daí desisto, excluo e bloqueio.
Nunca ninguém na história da internet disse "me desculpe, interpretei mal. Vou repensar minha opinião".
Mas percebam que a maioria desses comentários vêm da classe média.
Não há nenhum motivo para falar dos realmente pobres. Aqueles que vivem a pobreza real farão qualquer coisa para sair dela. Eles não estão reclamando na internet.
Os realmente ricos também não estão, por outros motivos.
Como no meme da Curva de Bell, o problema está no meio.
Eis a mentalidade da classe média na internet.
O tema geral da classe média é “eu fiz tudo certo, então alguém está ferrando comigo”. Como eles não têm dinheiro, eles usam o tempo de sobra para formular crenças de luxo (se distinguir pelas ideias em vez de resultados concretos).
Estas são as mais comuns:
Se alguém é rico, é porque eles tiveram sorte ou conheciam as pessoas certas. Claro que isso conta, mas o objetivo é justificar que nenhum esforço ou talento pode substituir o que só pode vir por mágica ou acaso. Daí o fetiche pelo networking.
Obsessão por contar o dinheiro dos outros. “Fulano faz tanto mil por hora” ou “com esses leads ele deve ter feito 200k”. O objetivo aqui é demonstrar que tal estratégia não compensa ou que fulano não é tão inteligente por gastar seu tempo com besteiras. Ele sim é inteligente, mas, como não conhece as pessoas certas, não obteve resultados proporcionais a sua perspicácia.
“O que eu faria se eu fosse fulano”. Como ele é o contador por amor do dinheiro dos outros, ela sabe como gastar melhor esse mesmo dinheiro. Então faz chover comentários nas caixinhas dos outros sobre como fulano gasta mal seu dinheiro e o que ele deveria fazer. Isso porque ela é refém da
Parassocialidade. “Relações parassociais são relações unilaterais estabelecidas entre figuras presentes em conteúdo de entretenimento e sua audiência, que são percebidas de formas diferentes entre seus participantes, com a audiência tendo uma falsa sensação de proximidade direcionada à figura midiática.”
Essa forma de interação, assim como “o que eu faria se fosse” dá a sensação gostosa de fazer algo pela própria vida sem na verdade fazer nada porque ela SABE COMO SERÁ SE FIZESSE.
5. O mínimo esforço. A classe média adora qualquer coisa que pareça mágica porque dá a impressão de que ela é esperta e não precisa se sujeitar aos problemas do “brasileiro médio”. Ela gosta da ilusão de que basta apenas decidir ou outra coisa mágica acontecer para ela ser rica, por exemplo.
O mantra comum é "eu poderia ficar rico se eu quisesse". Substitua o "rico" por bonito, magro ou qualquer outra coisa que ela finge não querer ser ou ter.
6. “Eu não sou otário”. A crença de que a classe média tem de fazer parte de um grupo especial, não ser pobre e saber como vai ser quando ela for rica, faz com que ela se ache impermeável ao erro.
Ela suspeita de tudo porque acha que isso é sinal de inteligência. Ela gosta de pensar que não cai tão fácil assim em gatilhos mentais e que é preciso muito mais para persuadi-la a comprar.
Ninguém nunca é o bastante para ensiná-la. Ela diz que "esse conteúdo tem no Youtube!", embora ela mesma nunca tenha procurado ou tido a paciência de assisti-lo. Ela só quer aprender com a autoridade máxima em cada assunto -- seja lá o que isso queira dizer -- e olha lá. "Ele é bom, mas...", é a frase de quem é incapaz de admirar.
Não passa pela cabeça dela que é muito mais fácil persuadir gente orgulhosa.
7. Status. Todo mundo quer status, mas a classe média gosta da ideia que os verdadeiros ricos vendem para ela sobre o que é ser rico.
A sensação de desprezo que o chique traz: a ideia de que você não precisa do outro. Isso se traduz no rigor para você ser aceito em algum grupo ou comprar qualquer coisa.
Exemplo: o pessoal high-ticket-masterclass-de-gola-rolê sabe que essa estética persuade a classe média porque ela adora os símbolos de status de uma Prada, Gucci ou Louis Vuitton. Ela sabe que de longe uma outra classe média cobiça as estampas conhecidas dessa marca.
É aquela velha história do “Leopardo” do Lampedusa: o burguês sabe o preço de tudo, mas não sabe o valor de nada.
O dinheiro fala, mas o luxo sussurra.
Com certeza essas características não são nem de longe no escuro a 100 kilômetros por hora exaustivas. Mas tenho certeza de que você reconheceu os outros ou a si mesmo nelas. Porque eu também tenho parte nisso tudo.