Chega mais uma vez a época do ano em que uma rapaziada de elite vai revelar para a plebe aqui que o “Papai Noel não existe”.
que é preciso dar realismo à criançada;
que eles precisam saber que são os pais que deram os presentes.
Influenciadores na TV e no celular ensinam como não traumatizar os baixinhos diante do terrível mas necessário assassinato de superstições. É tudo para o bem deles.
A mão do latrocínio treme.
Mas é claro que o Papai Noel existe, ora. Existe como a justiça existe no juiz. Pior: existe como alguém que fala e responde.
Quando uma criança fala com um desses gordinhos de Shopping, falso ou verdadeiro, com tecido adiposo ou lanoso, ela não fala com o Adilson, pai de família, fazendo um bico para aguentar o IPTU do início do ano.
Ela fala com o mítico gordinho sorridente. O Adilson é o Papai Noel por um tempo e como tal colhe e oferta os benefícios de representar o São Nicolau.
Do mesmo modo, num julgamento o juiz não é o excelentíssimo Godofredo de Almeida, mas a ação da justiça estatal. Quando ele vai ao mercado, não pode mais prender ninguém.
Também numa reunião de países, os presidentes SÃO os países. Nessa condição uma declaração mal colocada ataca TODA a nação, não somente a pessoa do representante.
Nem vamos falar do que significa um “rei” ser ofendido ou humilhado, pois a história é cheia de cadáveres que morreram pela nação.
Por isso é justamente um crime abandonarem essa condição de símbolo, agindo com interesses pessoais. Eles encarnam valores que vão além deles mesmos.
Evidentemente o velhinho do trenó não existe da mesma maneira que nós existimos; mas existe. Mas também os países não existem da mesma maneira que existimos e eu não vejo nenhum pai ensinando o filho a ser ateu de país.
Assassinar nas crianças a inteligência natural que elas têm para os símbolos sob a desculpa de realismo ou de invenção capitalista é uma tragédia educacional e humana, pois revela ao mesmo tempo a rigidez da nossa inteligência e a brutalidade dos nossos corações.
Não é que elas param de acreditar no Papai Noel e viram adultas.
É que elas passam a acreditar só no que é material.
Eu fico besta quando vejo gente que tenta se vender como autoridade em educação de filhos endossando esse tipo de coisa. Falam tanto sobre educação infantil, mas parece que nunca se deram ao trabalho de estudar sobre como se dá o raio da ~~ formação do imaginário ~~ nas crianças. Elas precisam "acreditar" em histórias e fantasias para desenvolver a capacidade imaginativa e a própria racionalidade que virá depois, no tempo certo, não com 3/4 anos de idade 😒
Texto necessário! As pessoas pregam a ideia de falar a realidade para as crianças, mas mentem em coisas pequenas para que obedeçam. Quem é pai/mãe sabe como são ótimos esses recursos simbólicos para incentivar bons comportamentos.