Me diz uma coisa...
Você sabe depois de quantos anos sofrendo podemos nos tornar quem somos?
Eu não fiz as contas, mas acho que muita gente não vive para ver o dia da libertação.
Falo isso porque eu já sofri muito tentando ser quem eu não sou.
Eu já tentei ser o cara do emprego estável.
Eu já tentei ser o cara do “business”.
Eu já tentei ser tanta coisa que, apesar do sucesso em várias delas, não gostei de quem me tornei.
Acho que um sinal de maturidade é reconhecer que nossos desejos vêm mais da pessoa que gostaríamos de ser do que da pessoa que somos.
O Millôr Fernandes conclui depois de se comparar a todos os seus amigos mais bem-sucedidos em “Notas de um ignorante” que:
“Dessa mente confusa, dessa existência confusa, dessas mal-traçadas linhas de viver creio que só resta mesmo uma conclusão, a que durante anos e anos me recusei por orgulho e vergonha — sou, por natureza e formação, um humorista”.
A maioria não tem coragem de fazer essa confissão nem no chuveiro, com apenas o arroto do ralo como testemunha.
Por orgulho e por vergonha não nos rendemos a quem somos.
E essa palavra é exata: render-se.
Render-se a si mesmo é não querer controlar o que os outros pensam de você.
É desapontar muita gente, a começar por você mesmo.
É devolver as fantasias que você pegou emprestado e começar a usar o seu próprio guarda-roupa.
Não é se render a sua mediocridade, acreditando que você não pode aprender nada novo e diferente.
É aprender algo novo e diferente e ter a honestidade de dizer “Não era bem isso. Eu não sou assim. Próximo”.
A semente precisa morrer para florescer.
Várias e várias vezes até dar frutos.
Eu sei que é difícil.
A gente nunca sabe de início quando é hora de insistir ou desistir.
Mas com a sensibilidade de um arrombador de cofres, você precisa sentir o clique da combinação certa.
Você vai saber qual é se ficar quieto e relaxar um pouco.
O som do clique é inconfundível porque ele não soa como um alarme, mas como o suspiro de alívio que você solta quando volta para casa.
É nesse cofre que você vai encontrar o rubi que o tempo todo esteve lá, chamando pelo seu nome enquanto você só ouvia o sussurro vaidoso do vento.
Estou um tanto quanto emotiva nos últimos dias e esse texto quase me fez chorar - novamente - em alguns minutos. Acho que ainda não encontrei exatamente o lugar que devo estar, mas já encontrei os que eu não devo estar e que não foram feitos para mim.
Bom, muito bom.