“Desenvolva suas excentricidades enquanto você é jovem. Assim, quando você envelhecer, as pessoas não vão pensar que você está ficando maluco.” –David Ogilvy
Só agora vejo com clareza a seguinte verdade sobre a minha vida: eu sempre amei o esquisito. Os lugares esquisitos. As ideias esquisitas. As pessoas esquisitas.
Não é por algum complexo de diferentão ou por alguma estratégia de comunicação pessoal. Não há nenhum esforço da minha parte. Eu inclusive só penso nisso depois que comentam como é esquisito o que estou fazendo. Eu sou como um ímã de ideias e oportunidades maravilhosamente bizarras — em proporções nem sempre desejáveis.
Eu acho que você também é, mas não sabe. Até agora.
Há muitas formas de ser esquisito. Claro, ninguém quer ser um desajustado social, um maluco em cima do caixote na praça ou um esquizofrênico. Você quer ser diferente. Único. Autêntico. Ou outra palavra da moda.
Você sente que poderia desafiar algumas normas ou dar um novo sentido a antigas regras. Talvez você sinta que a sua constante esquisitice não é uma fraqueza, mas uma força. O problema é que ninguém quer parecer esquisito porque é vergonhoso e desconfortável. Aderir ao “modo padrão” de fazer as coisas é o jeito mais seguro de fracassar tendo razão. “Ninguém nunca foi demitido por comprar IBM”, como dizia uma propaganda americana. Ao menos você estava fazendo a coisa certa, não é?
No entanto, para quem tem alguma aspiração artística ou profissional mais elevada e quer se diferenciar de algum modo, a obsessão com a normalidade é uma atitude insana. A diferença entre ser normal e domesticado é bem pequena. Aceitar a sua esquisitice, ao contrário, é o que pode te colocar mais perto do centro do seu eu, aquele de onde brotam os desejos mais densos e as aspirações mais sinceras. Afinal, é de lá que surge a pergunta básica que define a nossa identidade: qual é a coisa certa a fazer?
Não acho que estou perdendo tempo pensando nisso.
Com certeza é perder tempo pensar se é certo atropelar um idoso no ponto de ônibus ou aprender inglês para estudar. Essas coisas não merecem meditação. As respostas são óbvias.
Mas perguntas como “é possível equilibrar minha carreira com meus empreendimentos artísticos?” ou “Devo dizer para as pessoas a verdade ou o que elas querem ouvir?” ou “Será que esse é o momento de desistir e focar em outra coisa ou de insistir e focar em mim mesmo?” são mais difíceis.
São tantas opções que muitos se perdem na avaliação das alternativas e se esquecem de si mesmos no processo. Eles fazem perguntas absolutamente tolas do tipo “vale a pena fazer isso ou aquilo”. O importante é se vale a pena para você. Faltou o para quem na conversa. É como naquela história do Saul Bellow. Certo dia numa aula um aluno lhe perguntou se o “eu” existe, ao que ele respondeu “e quem está perguntando”?.
Criamos todo um negócio baseado na personalidade, mas, ironia das ironias, nunca levamos a personalidade em consideração. Estamos mais preocupados com a impressão pública que ela vai passar. E isso enlouquece.
Um dia eu estava deitado na cama depois de conversar com minha esposa pensando em uma decisão no trabalho onde havia muitas coisas boas que eu poderia fazer, e do nada me perguntei: “de todas essas boas opções, qual é a mais esquisita?” E ficou bastante claro para mim o que eu deveria fazer.
Percebi que quando penso que algo é “esquisito”, não tem nada a ver com o que penso.
O que estou realmente fazendo é supor o que acho que outras pessoas pensarão sobre isso. Por exemplo, é comum e irritante nos encontros de amigos de classe média que não cozinham a indecisão sobre o que pedir para a janta. Se estivesse em meu poder decidir o que quer comer (e nunca está), eu toparia um hambúrguer, ou uma pizza de muçarela, ou um poke. Eu nunca coloco como opção poke. Penso “Poke? Esquisito. Ninguém vai querer isso". Mas não acho que poke seja esquisito, eu adoro poke, eu acho que outras pessoas é que vão achar estranho e não vão querer.
Por quê?
Sobre como ser esquisito é ser mais você mesmo
Quando comecei a publicar constantemente nessa newsletter, há mais ou menos um ano, eu disse que ela era um jeito esquisito de ver a vida e os negócios. É mais ou menos o que você lê quando se inscreve.
Usei de propósito a palavra “esquisito” porque, como conheço mais algumas línguas, sabia que ela causaria uma ambiguidade. Porque “esquisito” vem do Latim exquisitus, “procurado com atenção”, portanto, “de escolha especial, coisa muito boa”.
Esse sentido ainda existe em português, embora seja mais comum no exquisite do Inglês, exquisito do Espanhol e exquis do Francês é sempre o de “refinado, bom, desejável”. Nesses idiomas a conotação de “estranho” não surgiu. Então deixei de propósito que as pessoas pensassem que eu falaria de “coisas estranhas” e “muito boas”. O resultado é que fui “procurado com atenção” por centenas de pessoas (Me desculpa. Não resisti. Mas foi assim mesmo).
O principal é que eu queria fazer as coisas do meu jeito. Do meu jeito esquisito para pessoas esquisitas. Eu não teria tido sucesso fazendo apenas como todo mundo faz, assim como não penso do mesmo jeito que todo mundo do marketing pensa, porque não leio as porcarias que eles leem. Eu seria mais um. Poderia até ser o melhor, mas eu não seria o único. Esquisito. Sem falsa modéstia mas com alguma solidão, eu não conheço muitas pessoas fazendo o que eu faço aqui.
Eu acho que não se trata de buscar essa esquisitice à força, para aparecer. Mas não ter a coragem de oferecer algo que lhe parece importante às pessoas para que elas provem antes de opinar mata a gente por dentro. Porque essa sua esquisitice é a coisa mais “sua”, mais pessoal, mais autêntica. Ela só parece estranha e inadequada porque você quer o sucesso e o prestígio da sua ideia antes de ela ganhar corpo.
Então um jeito simples de enxergar melhor a si mesmo e o que você quer é se render a sua esquisitice. Se você tiver um monte de opções igualmente viáveis, escolha a mais esquisita, porque significa que é a mais verdadeira para você. Ela revela o que é mais particular em você mesmo.
Isso significa que você precisou superar o que outras pessoas pensam. Você precisou abandonar o caminho conveniente, as expectativas da sua audiência e qualquer medo de ser julgado por fazer o que quer ou o que considera a coisa certa a fazer. No cenário lá em cima sobre o que pedir no iFood, sim, outras pessoas podem achar esquisito, mas eu deveria sugerir poke ou pelo menos reconhecer que esse desejo esquisito revela algo importante sobre meu gosto.
Como diz o maior compositor vivo, Nick Cave:
And if your friends think
That you should do it different
And if they think
That you should do it the same
You’ve got to just
Keep on pushing
Keep on pushing
Push the sky away
E olhando para a minha vida, posso facilmente encontrar exemplos em que fiz algo esquisito que deu muito certo e meus amigos fingiram que sempre me apoiaram e momentos em que fiz o que era esperado por eles e deu tudo errado.
Uma dessas coisas esperadas por todos, mas rejeitada por mim, foi começar meu perfil com um conteúdo curto topo de funil.
Meu problema com o conteúdo curto
Não sei bem quando aconteceu ou mesmo como aconteceu, mas aconteceu.
É como se a velha e divertida internet cheia de canais e sites esquisitos de pessoas estranhas com hobbies peculiares desaparecesse de repente da noite para o dia e todos nós acordássemos com uma enorme ressaca de domingo.
Estamos babando na almofada passando stories e vídeos de 10 segundos que nunca nos saciam. Estamos todos confusos nas redes sociais, tentando lembrar onde deixamos todos aqueles blogs legais que costumávamos ler — se é que você teve a oportunidade de conhecê-los — e aquela pessoa inteligente e motivada que você queria ser minutos antes de pegar no celular.
Em algum momento nos últimos anos “tudo” ficou um pouco sério e presunçoso. Todo mundo quis começar a ganhar dinheiro com isso, uns vendendo lixo, outros vendendo a si mesmos. E é trágico, terrível e idiota o que está acontecendo com os criadores de conteúdo e está causando a degradação da nossa sociedade de mais maneiras do que eu poderia descrever.
Você pode pensar que essa é uma excelente oportunidade para você, um leitor inteligente e culto, para ter um olho em terra de cego, mas eu gostaria de desanimar você: no conto do H.G Wells que ilustra essa história a pessoa com visão foge da “Vila da Alegria”, porque os seus cegos habitantes queriam arrancar o seu olho bom. “É difícil andar quando todo mundo rasteja”, dizia José Ingenieros.
Em algum momento, começamos a focar demais no formato curto em detrimento do formato longo. O conteúdo curto não foi projetado para pessoas sem tempo. Ele foi projetado para manter as pessoas boquiabertas cutucando as telas de seus telefones. Ele foi feito para privilegiar as empresas e te apresentar anúncios. As pessoas passam mais tempo do que imaginam vendo e lendo conteúdo curto do que fariam lendo um conteúdo longo. Elas leriam menos e melhor um conteúdo longo, que exige poder de concentração, do que 452 conteúdos cursos de baixa atenção.
Em algum momento nos últimos anos, as mídias sociais começaram a ficar espertas em nos tornar mais viciados nelas. Eles perceberam que, em vez de dar as chaves aos usuários, em vez de capacitá-los a decidir o que querem ver, eles apenas balançariam as chaves diante de seus olhos, como balançam a cenoura para o burro.
Eles perceberam que o truque para fazer com que as pessoas permanecessem em suas plataformas por mais tempo era divertir temporariamente seus usuários com um audiovisual interessante – vídeo curto, texto, imagens – e nunca dar a eles realmente o que eles querem.
Os algoritmos começaram a priorizar conteúdo curto para incentivar seus usuários a criarem mais conteúdo. Então você tem duas camadas de usuários: você tem os usuários nas redes sociais viciados em conteúdo curto e você tem os usuários viciados em criar esse conteúdo curto.
Essa situação cria o conhecido Paradoxo de Abilene:
Exemplo:
Você sugere para a sua família que seria muito legal ir à praia.
Na realidade, você não quer ir à praia e sua família também não quer. Eles querem ir ao zoológico e você quer ficar em casa. Mas você acha que eles querem ir e eles acham que você quer ir e então vocês vão.
Tudo dá errado porque você supõe que é isso que eles querem e eles, para te agradar, acham que é o que você quer. Todo mundo está infeliz e ninguém tem coragem de desfazer a confusão.
Não é a mesma coisa na internet?
Agora você precisa se esforçar para não ver conteúdo curto, um presente distópico que ninguém está gostando. Para onde quer que olhemos, a maioria das plataformas promove conteúdo curto, projetado para você ler ou ver enquanto está mijando ou esperando cinco segundos para que uma porta se abra.
Eles foram pensados para serem pequenas interrupções entre as inconveniências do resto de nossos dias. Na verdade, eles foram projetados para nos manter distraídos do terrível perigo de ficar sentados e pensar.
“Você não vai acreditar no que aconteceu depois…”
A diminuição do discernimento, do gosto e da “qualidade” do público é simplesmente um fato da vida moderna. Principalmente porque o autor sem dinheiro (ou Deus nos ajude, ‘Criador de Conteúdo’) não quer incomodar nenhum de seus possíveis benfeitores. E esta covardia motivada pelo dinheiro perpetua o problema.
O que temos é uma dinâmica mimética clássica. É mais ou menos assim:
O autor - por ganância, desespero ou cinismo - emburrece ou compromete intencionalmente algum aspecto de seu trabalho para ganhar fama, prestígio e dinheiro.
Essa tática ou fracassa, e nesse caso o autor é esquecido, ou é bem-sucedida, e nesse caso o autor continua com a mesma estratégia. É melhor não desafiar a sorte.
Vendo o sucesso dessa estratégia, outros autores seguem o exemplo, como num ciclo mimético.
Com o tempo, isto reforça a tática cafona mas eficaz em questão e torna-se parte da paisagem da internet. É assim que fazemos as coisas por aqui, cowboy.
Como resultado, o público logo verá essas coisas como normais. “Então é isso que é conteúdo”. E como a superfície da cultura é criada pelos jovens (eles têm energia, tempo e relativa falta de responsabilidade para se preocuparem com essas coisas), isto rapidamente se dissemina e normaliza. Os mais velhos veem estupidificados a ascensão de mais uma porcaria sem tempo nem energia de propor alternativas. O público logo não conhece nada melhor. O que era ruim vira o padrão.
Com o novo status quo estabelecido, por assim dizer, algum criador de conteúdo inventa uma maneira de chamar ainda mais a atenção e desce mais um degrau. Tudo pode piorar. A régua, como dizem, está cada vez mais baixa, não mais alta.
Isso é sombrio, eu sei. E possivelmente exagerado da minha parte (eu sou dramático por natureza). Mas de que outra forma você explica por que cada thumbnail do YouTube tem esse mesmo rosto cretino?
Sim, eu sei como a ciência comportamental explica isso, mas percebem que o efeito diminui a cada pessoa que usa esse mesmo artifício? Eles têm medo de serem esquisitos do seu jeito e continuam fazendo isso porque funciona. Como diz um argentino pouco conhecido dos brasileiros:
“O homem medíocre que se aventura na arena social tem um apetite urgente: o sucesso. Ele não suspeita que exista algo mais, a glória, cobiçada apenas pelo caráter superior” (José Ingenieros).
Eles fazem isso porque funciona. Porque conteúdo é propaganda. Anúncio é conteúdo. E a publicidade funciona por meio de testes até que você encontre o que é mais eficaz. Dane-se o gosto, dane-se a estética, danem-se as preocupações sobre como isso pode contribuir para uma degradação ainda maior da cultura.
Se isso faz com que os números cresçam, é bom. Fim da história. Ou quase.
Será que podemos fazer algo melhor?
A minha oferta esquisita
Eu já tenho alguns cursos e formações que, na opinião minha e dos meus alunos, oferecem alternativas melhores. Mas hoje eu não quero falar deles. Quero falar da menor atitude que você pode tomar se concordou comigo até agora. Quero falar sobre o futuro dessa newsletter, que eu quero que se torne um lugar para pensarmos com mais calma sobre as coisas que importam na nossa vida e nos nossos negócios.
Para que isso se realize, eu vou começar a publicar conteúdos exclusivos para assinantes pagos. Não é uma questão de dinheiro. É um valor irrisório e não vai mudar em nada a minha vida financeira ou a sua. É por dois motivos:
Demonstrar apoio a esse tipo de trabalho (mesmo que seja para ganhar descontos em outros produtos, como veremos abaixo);
Aprender com mais atenção e vontade porque agora você está pagando por isso (mesmo que seja um valor baixo por mês).
O que você vai receber?
Eu pretendo publicar pelo menos uma vez por semana um conteúdo exclusivo para assinantes. Isso pode incluir: ensaios sobre temas que os assinantes acharem úteis, análises de filmes e resenhas de livros, curadoria de anúncios e o Histór.ia do Futuro.
A Histór.ia do Futuro, o resumo semanal com dicas de ferramentas, prompts e outras coisas sobre IA, será gratuita apenas 1 vez por mês. Apenas assinantes terão acesso integral toda as semanas a essa newsletter
Além disso, você vai receber 10% de desconto para adquirir qualquer curso meu disponível. Assim que confirmada a sua inscrição, você pode me informar o seu e-mail pelo Instagram ou respondendo a este e-mail que liberarei o seu cupom.
Se você já é aluno, vai igualmente receber 10% de desconto para ser assinante pago. Basta falar comigo pelo Instagram ou responder a este e-mail.
Quanto custa?
R$ 137, 00
A sua assinatura é anual. Não vou oferecer planos mensais. São 12 meses ou aproximadamente 40 conteúdos exclusivos por ano Uns longos, outros mais curtos, mas vou tentar manter essa média. Você está comprando cada conteúdo por aproximadamente 3 reais. Se você precisa de uma oferta melhor do que essa, não assine. Não estou à altura das suas exigências.
Se você quer ser um fundador, um mecenas, o valor é R$ 1.200 por ano e além disso tudo faremos uma call sobre o assunto que você quiser. Ela será agendada assim que confirmada a sua inscrição. Eu entrarei em contato. Fique tranquilo.
Até quando vai essa oferta esquisita?
Essa oferta vai durar até segunda-feira, dia 5/2. No dia seguinte esses valores e condições deixarão de ser fantasia e voltarão à realidade do mercado.
Se você é o tipo de pessoa que gosta desses conteúdos densos porque entende que são os únicos que podem lhe dar ideias diferentes, aperfeiçoamento da sua inteligência e concentração de longo prazo, então a assinatura é a decisão mais fácil que você poderia tomar nesse momento.
Honestamente, você pagando ou não, eu vou continuar escrevendo de qualquer jeito. Fiquei um ano sem jamais passar o chapéu aqui e pedir uns trocados. Essa é uma prova do que eu estou disposto a fazer sem ganhar um centavo com isso.
Então, se eu não tiver nenhum assinante pago (e já tenho mesmo antes de fazer essa oferta pública), continuarei a escrever; se de alguma forma ganhar dinheiro suficiente para comprar uma mansão, continuarei a escrever (da mansão, obrigado).
A decisão é se você quer descobrir comigo o seu jeito de continuar fazendo as coisas apesar de tudo.
Com entusiasmo e votos de que você seja mais esquisito nesse ano,
Rafael